sábado, 17 de maio de 2014

Pri, minha querida. Priminha querida.

Uma adolescente querendo ser adulta e uma pré-adolescente dividida entre as bonecas e as coisas de mocinha. Tínhamos 15 e 11 anos, respectivamente.
Eu era impaciente demais para lidar com a sua ingenuidade. Ela, possivelmente, sentia-se acuada diante da minha prepotência, tão típica da idade.
Naquela tarde, enquanto eu fazia as unhas da nossa avó, ela observava. Perguntei: "Quer que eu faça as suas também?". Ela assentiu.

Suas mãos já não eram tão pequeninas, mas ainda eram as mãos de uma criança. Lixei suas unhas, curtinhas e sem forma definida, uma a uma, cuidadosamente. Preparei o alicate e comecei a aparar suas cutículas. De repente, um susto: sangue! Praticamente todos os dedos estavam sangrando! Fiquei desesperada, me sentindo péssima por tê-la machucado...
Eu pedia desculpas repetidamente, ao mesmo tempo em que tentava estancar o sangramento com alguns pedaços de papel. Ela apenas ria e dizia, com a maior calma do mundo: "Não tá doendo, Nina. Eu juro...". Graças à sua tranquilidade, consegui finalizar a manicure. Suas mãozinhas ficaram lindas, como as de uma boneca.

É pouco provável que ela se lembre daquele dia. Eu nunca me esqueci... Talvez por ter ficado verdadeiramente apavorada com tanto sangue, ou, então, porque foi o contato mais íntimo que tivemos durante muito tempo.
Quatro anos pode não parecer uma diferença etária considerável, mas, estando no auge da adolescência, quatro anos é um abismo. Apesar de sermos relativamente próximas, morarmos na mesma cidade e nos encontrarmos com frequência, nossa relação nunca foi de amizade, do tipo de trocar confidências e tal. Era uma espécie de bem-querer impessoal.

Ela casou cedo e com pouco tempo de namoro, assim como eu. No entanto, ao contrário de mim, não quis esperar muito para constituir uma família.
Pouco mais de um ano após o casamento, já carregava uma linda menininha em seus braços. E mal havia se acostumado com o mundo das fraldas e mamadeiras, quando a primogênita estava com sete ou oito meses, foi abençoada com a segunda gravidez (dessa vez, completamente inesperada). Outra princesinha.

Linda, perfeita, risonha e quase não dava trabalho. Diferente da irmã, pegou o seio da mamãe logo de cara e não largou mais. Mamava, dormia e sorria. Um verdadeiro anjinho!
Tinha as mãos mais belas que um bebê recém-nascido poderia ter, nunca vi igual. Unhas alongadas e incrivelmente delineadas, que um dia poderiam servir de tela para todas as cores de esmalte do mundo.
Infelizmente, esse dia nunca chegou... Aquelas mãozinhas, esculpidas carinhosamente pela natureza, não se tornariam as mãos de uma mulher. Eram, de fato, as mãos de um anjinho.

Hoje somos duas adultas. Duas mães. Estamos, agora, caminhando lado a lado, numa mesma direção. Isso deveria facilitar um pouco as coisas... Mas não. De alguma forma, o abismo ainda existe.
Queria ter conseguido encontrar as palavras certas no momento em que mais precisou. Queria ter sabido exatamente o que fazer. Tudo o que consegui foi abraçá-la.
Às vezes me pergunto se foi suficiente. Se, através daquele abraço, fui capaz de expressar o que estava sentindo.

Dor. Muita dor. Não apenas a dor da perda, mas a dor pela dor de quem amamos. Doeu demais presenciar tamanho sofrimento, e doeu mais ainda não poder fazer absolutamente nada para amenizá-lo.
Compaixão. Se, naquela ocasião, me fosse concedido um único desejo, esse desejo seria livrá-la daquele pesadelo. Daria tudo, tudo, tudo para que não tivesse que passar por isso.
Empatia. Poderia ser o meu filho... Poderia ser eu no seu lugar. No pior lugar que um pai ou uma mãe poderiam estar.

Todos seguimos com nossas vidas desde então. As pessoas tendem a se unir perante uma tragédia, e foi o que aconteceu. Criamos uma barreira de amor para protegê-la, embora conscientes de que contra a dor não há proteção.
O assunto ficou adormecido (esquecido, jamais). Nunca conversamos a respeito, por essa razão, nunca disse a ela o que gostaria. Ainda tenho medo de machucá-la, principalmente com as lembranças.
Espero apenas que ela tenha a certeza de que sempre estive e sempre estarei aqui. E que eu ainda me preocupo com suas feridas, mesmo ela não demonstrando que está doendo.

No meu coração, ela ainda é uma menininha.







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