segunda-feira, 12 de maio de 2014

Vida, vamos fazer as pazes?

Estava de mal com a vida. Não havia nenhum motivo específico, apenas uma sensação repentina de descontentamento, um vazio esquisito, como se nada fizesse muito sentido e as coisas não estivessem encaixando direito.
De vez em quando, fico assim. Triste, sem mais nem menos. Datas comemorativas costumam contribuir para isso. Aniversário, Natal, Ano Novo... sempre trazem uma nostalgia que me derruba. Porque sou apegada demais ao passado e às probabilidades do futuro. Essa combinação de frustração, por tudo o que deixei de alcançar no espaço de tempo entre o ano anterior e o atual, e angústia, por não poder prever o que acontecerá até o ano seguinte, gera uma guerra interna que pode durar dias.

A última semana foi de total reclusão. Em vários momentos, enquanto me dividia entre os cuidados da casa e do meu filho doente, me vi completamente perdida. Ser mãe é o que faço de melhor, não tenho dúvidas quanto a isso, mas ser "só" mãe também pode ser um saco.
Abdicar da profissão por um tempo, para desempenhar esse novo papel, foi a escolha mais certeira de todas. Sou imensamente grata pelo privilégio de estar 24 horas ao lado do meu filho. No entanto, nem tudo são flores... Uma criança pequena demanda tanto tempo, dinheiro e dedicação, que você acaba esquecendo o que é individualidade. E perder o controle (principalmente o financeiro) da sua própria vida é uma droga.

Com a chegada do tal "segundo domingo de maio", a maternidade é colocada num pedestal. Todo mundo demonstra idolatria, compra presentes, compartilha fotos e frases bonitas nas redes sociais, mas nem todo mundo segue com o mesmo espírito na segunda-feira. Talvez essa tenha sido a razão para o baixo-astral. Ou talvez eu seja mal-humorada por natureza mesmo... (rs).
Não estava nem um pouco empolgada com o Dia das Mães, o que é quase um sacrilégio, pois deveria comemorar em dobro. Certamente mudarei de ideia quando receber o primeiro presentinho das mãos do Miguel, por ora, ainda penso que é uma data comercial. De qualquer forma, uma oportunidade para reunir a família é sempre bem-vinda.

Minha avó esteve internada recentemente, devido a um AVC, então, nada mais correto do que passar o dia com ela. Conseguimos reunir quase todas as mães da família (faltou apenas uma prima, que estava trabalhando). O almoço foi delicioso e divertido, saí de lá brigando comigo em pensamento: "Tá vendo, sua trouxa? Valeu a pena! Seu domingo foi ótimo!".
Encerramos o dia no sofá, eu, o maridão e nosso gordinho levado. O clima pesado não existia mais, assistimos um filminho bobo e demos muitas risadas antes de irmos para a cama.

No auge do nosso sono mais profundo, de madrugada, fomos acordados com gritos: "Por favooooor!!! Por favooooor!!!.
Num primeiro momento, pensamos que se tratava de algum louco, de passagem, e ignoramos. A janela do nosso quarto é direcionada para a rua e esse tipo de coisa sempre acontece. Geralmente são bêbados sem noção. Depois de alguns instantes, os gritos ficaram mais claros: "Minha esposa está morrendo!!! Nos ajudem, por favooooor!!!. 
Identifiquei, em meio aos gritos desesperados do homem, a voz do Lucas, o menininho que mora na casa em frente. Avisei o Luciano, ele pulou da cama, pegou a chave do carro e saiu correndo, ainda sonolento.

Consegui fazer o Miguel dormir novamente e fiquei esperando alguma notícia. Ouvi minha cunhada (que mora na casa de cima, e também saiu para ajudar) dizendo para o marido dela que já estavam no hospital e pediram que levassem o menino para a casa da avó.
Aproximadamente uma hora depois, por volta das 5 da manhã, o Lu voltou, visivelmente abalado. Contou que a mulher havia convulsionado e sua pressão não parava de cair. Eles a levaram, desmaiada, para o hospital mais próximo, particular, onde negaram atendimento sem que antes fossem realizados os procedimentos burocráticos. Partiram, então, para um hospital público, onde ela foi prontamente socorrida, felizmente.
Minha vida é realmente muito boa...

Por causa do susto, não consegui dormir mais. Fechava os olhos e os gritos do rapaz ecoavam na minha cabeça. Pensava naquela família e em nós mesmos. Um casal jovem com um único filho, assim como nós. Poderia ter acontecido conosco. Mas nós temos carro, plano de saúde... Diante desse verdadeiro "tapa na cara", me dei conta do quão injusta estava sendo com a minha vida.
Ao invés de ficar emburrada por não ter mais tempo de fazer as unhas ou cuidar do cabelo, não conseguir comprar tudo o que gostaria nem ter energia para gastar com coisas que não envolvam o universo infantil, eu tenho é que agradecer. Vida, me perdoa?

Um comentário:

  1. Está mais do que perdoada. Todos temos o direito de uma briguinha de vez em quando...

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