domingo, 13 de abril de 2014

Coitadização

Ele ajuda todo mundo, mas, quando precisa, ninguém aparece para ajudá-lo. Coitado...
Ela está sempre preocupada com os outros, por isso não consegue viver a própria vida. Coitada...
Ele já perdeu as contas de quantos calotes tomou de amigos. Coitado...
Ela já perdeu as contas de quantos chifres tomou de namorados. Coitada...
Ele trabalha tanto que não sobra tempo para diversão. Coitado...
Ele está desempregado há tanto tempo, que não tem dinheiro nem para a condução. Coitado...
Ela trabalha tanto que mal consegue ficar com os filhos. Coitada...
Ela parou de trabalhar para cuidar dos filhos, agora mal consegue tomar banho direito. Coitada...
Ele só se interessa pelas mulheres erradas. Coitado...
Ela só se apaixona por cafajestes. Coitada...
Ele é inteligente, engraçado, trabalhador... Mas é feio que dói. Coitado...
Ele é lindo, charmoso, sedutor... Mas é pobre. Coitado...
Ela é simpática, interessante, tem um bom papo... Mas é gorda. Coitada...
Ela é linda, tem uma beleza ímpar e curvas perfeitas. Mas é burra. Coitada...

Lamentar virou hábito e é preciso exercitá-lo. Todo dia. Toda hora. O tempo todo. Tudo é motivo de pena. E coitado daquele que discordar... Insensível, desumano, filho da puta sem coração.

"A coitadinha está sofrendo... Como é possível não se comover?" 

"O coitadinho não consegue ser feliz... Que judiação!"

Nunca sei o que dizer diante de comentários desse tipo. Primeiro, porque geralmente me sinto a tal filha-da-puta-sem-coração. Segundo, porque ainda conservo um lado sensível e fico com medo de magoar alguém. Terceiro (e mais importante), porque tenho preguiça.

As pessoas nunca estão preparadas para a verdade. Aquela história de "prefiro chorar com a pior verdade do que sorrir com a melhor mentira" é balela. Se fosse assim, ninguém perderia tempo com lamúrias.
Felicidade não dá ibope, minha gente! Tristeza sim, é sucesso garantido.

Sabe o que eu realmente penso? Você pode não ser responsável pelos seus problemas, mas cabe a você (unicamente) a decisão do que fazer com eles.
A vida é feita de caminhos. Se a trilha que escolheu não está levando a lugar nenhum, tente outra. Se o objetivo alcançado não é como imaginava, há sempre a opção de dar meia volta e recomeçar. Se existem buracos demais na estrada, tape-os. Se os pés não estão aguentando, peça carona.

Menos choramingo e mais atitude, por favor. Afinal, todo mundo é coitado de alguma forma.
Com exceção de crianças, que ainda não respondem por si, e indivíduos vitimados por doença ou tragédia, eu não tenho dó de ninguém.
Tô legal de queixume de marmanjo. Coitados dos meus ouvidos...






Um comentário:

  1. Jan sua linda bandida! Coitados! hehehe...Mas é bem isto flor. Há um cultivo generalizado de auto-piedade, muito estimulado nas redes sociais. Uma armadilha. Quando a gente menos percebe está lá...o pézinho escorregando e quase caindo neste buraco. Menos coitadização seria bom. Parabéns pelo artigo.

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